Linux quer conquistar mercado de desktops


Fabiano Klostermann [28/10/2007]


David Barzilay, da Red Hat: “Experimentem o programa”.
Com presença já consolidada no mercado de servidores, o sistema operacional Linux agora vai ter que quebrar paradigmas para tentar se estabelecer também no mercado de estações de trabalho corporativas (desktops). Este e outros desafios e avanços da plataforma de código aberto foram discutidos no Seminário Linux Park 2007. A importância do Software Livre para o Mercado de Tecnologia da Informação (TI) -, realizado em Curitiba na última quinta-feira.

Para as empresas que atuam na área, a presença do sistema operacional do pingüim em servidores já é bastante significativa. De acordo com a gerente de Produtos de Software da Itautec, Isabel Lopes Gerun, a fatia de mercado ocupada pelo Linux hoje é bastante razoável, ficando na faixa de 30% a 40%. “Há um número muito grande de grandes e pequenas empresas que optaram pelo Linux como solução nos servidores. Isso acontece pela qualidade do produto, principalmente no que chamamos de infra-estrutura, que são os servidores internet, de e-mail e segurança”, afirmou.

Segundo ela, nesse segmento, as pequenas empresas ainda levam vantagem na utilização de software livre. “Proporcionalmente, a utilização de Linux em servidores é maior nas pequenas companhias em relação as grandes”, explicou.

Para o gerente de marketing da Red Hat no Brasil, David Barzilay, a maior confiança do mercado no Linux para servidores ocorre por uma evolução natural da plataforma. “O Linux é uma evolução do Unix. E, no início, o sistema ainda era uma coisa muito mais para técnicos que sabem mexer com linha de comando. Algo muito longe ainda do usuário final”, disse.

Custos

Cezar Taurion, da IBM: manutenção gratuita.
Uma das vantagens de ter servidores rodando sistemas operacionais de software livre pode se refletir na redução dos custos para manutenção. De acordo com o gerente de Novas Tecnologias Aplicadas da IBM, Cezar Taurion, algumas empresas optam por não ter contratos para o serviço. “O Linux tem a vantagem que, se você não quiser contratar ninguém, pode trabalhar junto à comunidade e receber suporte gratuito”, explicou. Segundo ele, apesar de não haver números exatos, a estimativa é que de 30% a 40% dos servidores que rodam a plataforma não têm contratos assinados de manutenção. “Qual o custo disso?”, indagou.

Desktops

Além das questões comerciais, como custos, adaptação e disponibilidade de determinados aplicativos, a questão cultural ainda é um fator muito forte que impede a popularização do Linux nos desktops. Segundo Isabel Lopes, há a necessidade de quebrar um paradigma que permanece há 20 anos. “Se para servidores não há mais discussão, para desktops o uso do Linux ainda é uma questão de ganhar um pouco a confiança do mercado, mostrar que é fácil de usar e que existe um outro mundo, que não é só Windows”, disse.

No caso dos custos, o gerente da IBM afirmou que a desvantagem do software livre ocorreu por conta da “lei da oferta e procura” e que o problema já é parte do passado. “Antes havia muita gente conhecendo a Microsoft e pouca gente conhecendo o Linux. Então, um profissional habilitado tenderia a ser mais caro, porque era mais raro. Então, isso virou meio que um dogma. Com o aumento do número de profissionais que trabalham com o Linux, a tendência natural é que os custos diminuam. No longo prazo, não vai haver diferença nenhuma se é que hoje ela ainda existe.”

Já para a questão da adaptação ao novo sistema, David Barzilay, da Red Hat, sugeriu que os interessados instalem a distribuição gratuita da empresa, o Fedora, e experimentem o programa. “É bom pra se ambientar com o Open Office, que é muito semelhante ao Microsoft Office, e com o próprio Firefox, que já vem ganhando um mercado imenso do Internet Explorer. No pacote do Fedora você tem os principais aplicativos que o usuário mediano utiliza: pacote Office, navegador e o programa de e-mail. Com uma instalação dual boot na máquina, você ainda mantém o Windows. O usuário vai ver que as interfaces gráficas são muito semelhantes”, explicou.

Disponibilidade de softwares ainda é baixa

Mesmo com os avanços em custos e adaptação, a baixa disponibilidade de aplicativos de uso específico (editoração eletrônica, CAD, tratamento de imagens, edição de vídeos, etc), ainda é um dos principais fatores que impede uma maior adesão à plataforma Linux.

De acordo com David Barzilay, muito dessa mudança passa pelos usuários. “O modelo de desenvolvimento do código aberto não funciona como a indústria de software normal. Muitas das mudanças e a revolução que a gente vê no software livre hoje foram provocadas pelos próprios usuários, ou induzidas por eles. Por exemplo, há drivers proprietários que não funcionam no Fedora e que os próprios usuários começam a pressionar o fabricante a torná-lo código aberto ou homologá-lo na plataforma Linux”, disse. Mas a mudança também passa por critérios econômicos. “No caso do AutoCAD, por exemplo, teria que haver uma legião de arquitetos e engenheiros civis que se unissem para que o fabricante homologasse a sua solução para o Linux. Porque, obviamente, o fornecedor não vai se dar o trabalho de engenharia pra homologar o programa dele a não ser que tenha retorno financeiro lá na frente”, explicou.

Para Cezar Taurion, a maioria desse softwares específicos ainda roda apenas sob o Windows, mas há alternativas para o usuário código aberto. “A grande maioria desses softwares tem equivalentes em software livre, com funcionalidades muito parecidas. Então, você pode adotar a tecnologia pra quase tudo que você faz em ambiente Windows. À medida que esse mercado vai crescendo, mais e mais iniciativas vão surgindo, ao passo da IBM ter o seu equivalente ao Office baseado na comunidade Open Office mostra que cada vez mais as empresas estão se comprometendo concorrer com o Windows”, disse. Mas, para ele, as expectativas são otimistas. “Se hoje não é 100%, isso não significa que daqui a dois, três anos não seja. Eu acredito que a maior parte do que você precisa enquanto pequena empresa você já encontra em software livre”, afirmou.

Para a gerente da Itautec, Isabel Lopes, outro benefício da adoção do Linux em desktops são os pacotes que vem com as distribuições. “O que temos visto são empresas, grandes, médias, e não só pequenas, que estão fazendo contas e vendo que vale a pena investir em desktop com o Linux. Porque não se trata somente de sistema operacional. Normalmente, no Linux, você tem as ferramentas de escritório embutidas, como o processador de textos e planilha de cálculos, enfim as ferramentas de produtividade. Que, no caso do Windows, você tem que comprar em separado. Hoje o preço do Office é um alto para uma pequena empresa, significa um gasto de quase 50% do preço da máquina”, concluiu. (FK)

Fonte: http://www.parana-online.com.br/noticias/index.php?op=ver&id=312841&caderno=4