Análise do CentOS 5


Desenvolvido a partir dos códigos-fonte do sistema operacional Red Hat Enterprise Linux (RHEL), o CentOS - acrônimo para Community ENTerprise Operating System - é uma distribuição Linux gratuita, voltada ao ambiente corporativo, e que agrega as vantagens técnicas da distribuição na qual se baseia: segurança, estabilidade e compatibilidade com diversos hardwares e pacotes criados especificamente para o RHEL.

Esses e outros atributos fazem do CentOS uma alternativa gratuita para as diversas distribuições corporativas de alto custo, entre elas o SUSE Linux Enterprise Server, Mandriva Linux, além do próprio Red Hat Enterprise Linux.

Um clone do RHEL

CentOS 5Tela do CentOS 5
De acordo com algumas pesquisas realizadas no ambiente corporativo, o Red Hat Enterprise Linux - distribuído pela Red Hat, Inc. - é atualmente apontado como o líder de participação entre as distribuições Linux. Resultado de suas importantes vantagens para esse mercado:

  • Uma grande base de softwares e hardwares certificados.
  • Uma série de programas de parceria.
  • Longo ciclo de suporte para cada versão da distribuição (7 anos).
  • Excelente performance, segurança, escalabilidade e disponibilidade, com testes de performance auditados pela indústria.
  • Tecnologias de código aberto rigorosamente testadas através do projeto Fedora, patrocinado pela Red Hat.
  • Excelente interoperabilidade com outros sistemas Unix e Microsoft® Windows®.

Pode-se, no entanto, subtrair dessas vantagens o alto custo da distribuição, que muitas vezes se torna um impeditivo para pequenas e médias empresas adotarem o RHEL em seus servidores ou estações de trabalho. Praticamente esse custo está associado ao suporte técnico, que pode ser por telefone, web ou ambos, dependendo do contrato.

Apesar do custo, a Red Hat cumpre o compromisso com os princípios de código aberto, bem como dos softwares de código aberto utilizados, e libera os códigos-fonte dos pacotes usados no RHEL, permitindo assim que qualquer pessoa ou instituição recompile e utilize a distribuição sem absolutamente nenhum custo, mas com apenas uma condição: remover as marcas registradas e os logotipos da Red Hat.

É com base nesse princípio que, em meados de Maio de 2004, surgiu a primeira versão do CentOS 2, baseado no Red Hat Enterprise Linux 2.1. Desde então, a distribuição se tornou uma opção gratuita para empresas que gostariam de contar com as vantagens técnicas do RHEL, mas que não tinham condições de pagar por sua licença. Ou para aquelas que simplesmente não necessitavam do suporte técnico da Red Hat.

Versão do CentOS Arquiteturas suportadas Versão do RHEL (base)
2 i386 2.1
3.9 i386, x86_64, ia64, s390, s390x 3 Update 9
4.6 i386, x86_64, ia64, ppc (beta), alpha, sparc (beta), s390, s390x 4 Update 6
5.1 i386, x86_64 5 Update 1
Tabela de versões e arquiteturas suportadas

Com o passar do tempo, o projeto do CentOS ganhou força e notoriedade em relação as outras distribuições "clones" do RHEL, entre elas o Scientific Linux, Tao Linux (projeto encerrado em Junho de 2006) e o White Box Enterprise Linux.

Atualmente na versão 5.1, que obviamente é baseada no RHEL 5.1, o CentOS conseguiu estabelecer uma base sólida de usuários, boa documentação e uma lista de e-mail bastante ativa, com apoio dos mantenedores e da grande comunidade que se formou em torno dessa distribuição.

Download e instalação

Existem hoje aproximadamente 140 mirrors públicos para o CentOS, onde é possível obter as imagens ISO dos seus CDs ou DVD de instalação, de todas as versões lançadas a partir do 3.4. Os mesmos mirrors são também repositórios dos pacotes RPM, utilizados por ferramentas de gerenciamento de pacotes como o yum.

Instalação do CentOS 5Instalação do CentOS 5
Para a versão 5 existe uma novidade: um CD de instalação, com tamanho aproximado de 7 MB, chamado NetInstall. Com ele, todos os pacotes RPM são obtidos através da rede (NFS, FTP, HTTP) durante o processo de instalação. Esse procedimento é comum em empresas para, por exemplo, agilizar a instalação em múltiplos servidores.

Felizmente, o CentOS também herda do RHEL o seu excelente programa de instalação, o afamado Anaconda. Nele, todo o processo é guiado com clareza e simplicidade suficiente, ao mesmo tempo que permite realizar configurações muitas vezes essenciais para servidores, como a configuração do Firewall e SELinux, criação de partições utilizando Software RAID e LVM, e seleção de pacotes individuais ou por grupos. É importante revelar que o Anaconda também é um projeto da Red Hat licenciado pela GPL.

Um recurso interessante e útil do programa de instalação Anaconda é o Kickstart. Através dele o administrador poderá automatizar todo o processo de instalação, colocando em um arquivo todas as respostas para as questões que normalmente são feitas durante esse processo. Isso faz do Kickstart uma boa opção para acelerar a instalação de servidores e estações de trabalho em empresas onde esse procedimento é corriqueiro.

Política e procedimento de atualização

Diferentemente do projeto Fedora - cuja atualização ocorre praticamente a cada 6 meses - a Red Hat garante um grande ciclo de vida para cada versão do RHEL. Como referência, o RHEL 5 foi lançado 2 anos após o lançamento do RHEL 4. Essa política de atualização, típica de distribuições corporativas, garante uma qualidade muito apreciada pelas empresas: a estabilidade.

Após o lançamento de uma nova versão do RHEL, por exemplo, o RHEL 5, são priorizadas as atualizações de segurança e correções de bugs dos softwares que integram essa versão da distribuição. Novas funcionalidades são geralmente adicionadas após a atualização para um novo release, por exemplo, o RHEL 5.1. Antes de ser disponibilizado nos repositórios, os pacotes atualizados são rigorosamente testados pela Red Hat para evitar, ou pelo menos minimizar, qualquer impacto na estabilidade ou desempenho do sistema.

A política de atualizações do RHEL pode ser ilustrada da seguinte forma: caso a distribuição seja lançada com o servidor de banco de dados MySQL na versão 5.0, será bem provável que ele não seja atualizado para a versão 5.1 se isso implicar, de alguma forma, uma alteração no funcionamento dos sistemas que utilizam esse banco de dados. Mesmo assim, vale ressaltar que as falhas de segurança e bugs encontrados nas versões posteriores ao MySQL 5.0, mas também presentes nessa versão, serão rapidamente corrigidos através de uma técnica conhecida como Backporting.

Evidentemente o CentOS se beneficia dessa mesma política, lançando suas atualizações poucos dias após a Red Hat liberá-las, e com um diferencial que pode ser importante para determinadas empresas: Tela do Yumex

Tela do Yumex
conta com repositórios adicionais, mantidos pelo próprio projeto, que possuem alguns pacotes de softwares nas versões mais recentes. No entanto, por não serem distribuídos no RHEL, não são suficientemente testados e, por conseguinte, podem prejudicar a estabilidade do sistema em casos específicos.

A partir da versão 5.0, a tarefa de atualizar e gerenciar os pacotes passou a ser exclusivamente do software yum (Yellow dog Updater, Modified), substituindo definitivamente o up2date presente nas versões anteriores. O yum é um programa de gerenciamento de pacotes por linha de comando para sistemas operacionais baseados em RPM, comparado, por exemplo, ao notável apt-get do Debian. Atualmente o yum é considerado um software bastante estável e maduro, sendo usado como base para várias ferramentas gráficas de gerenciamento de pacotes, entre elas o pup, pirut, e yumex.

Softwares

Um dos pontos mais criticados do RHEL, e conseqüentemente do CentOS, são as versões dos softwares disponibilizados na distribuição, consideradas muito antigas em relação a última versão estável (ver tabela comparativa de versões).

Novamente, essa discordância entre as versões é resultado da já explicada política de atualizações da Red Hat, que, de certa forma, desestimula os usuários que preferem contar com as novidades dos softwares mais recentes.

Software Versão no CentOS 5.1 Última versão estável
Kernel 2.6.18 2.6.23
Mozilla Firefox 1.5.0.12 2.0.0.11
Mozilla Thuderbird 1.5.0.12 2.0.0.9
OpenOffice 2.0.4 2.3.1
Gnome 2.16 2.20
MySQL 5.0.22 5.0.51
PostgreSQL 8.1.9 8.2.6
Apache 2.2.3 2.2.6
PHP 5.1.6 5.2.5
Tabela comparativa de versões

Outro ponto importante de discussão é o Kernel da distribuição. No RHEL 5 alguns módulos e opções considerados instáveis são desativados por padrão, como por exemplo, os sistemas de arquivos XFS, ReiserFS e JFS, além de vários módulos USB, Firewire e SCSI. Então, para permitir uma alternativa aos usuários que sentem falta desses recursos, os mantenedores do CentOS sustentam em um repositório chamado CentOSPlus um kernel recompilado (kernel-2.6.x.xxx.el5.centos.plus), com todos esses módulos e opções ativados.

Mesmo com uma razoável coleção de softwares espalhada nos 6 CDs do CentOS 5, existe ainda uma grande quantidade de pacotes RPM disponíveis em outros repositórios na Internet. Entre esses repositórios destaca-se o RPMForge, com mais de 4.000 pacotes compatíveis com todas as versões do CentOS.

Documentação e suporte

Como fruto do recente ganho de popularidade e espaço nas empresas, o CentOS passou a servir de base para muita documentação disponibilizada na Internet. Junto a essa fartura de documentação, somam-se os próprios manuais do RHEL, disponíveis nos CDs de instalação e traduzido em várias línguas, e também um Wiki, onde é possível encontrar HowTos, dicas, FAQ e acompanhar algumas novidades sobre a distribuição.

Outra fonte de informação útil para usuários do CentOS é a Base de Conhecimento (knowledgebase) da Red Hat. Ela é uma biblioteca de dicas, procedimento para resolução de problemas e informações adicionais, atualizada diariamente pelos técnicos da Red Hat com base nas questões mais freqüentes obtidas pela equipe de suporte. Vale citar também a existência das erratas, com detalhes das atualizações liberadas para a distribuição.

No caso de alguma informação não estar na web ou nos manuais, ainda é possível recorrer as melhores fontes de conhecimento e suporte do CentOS: seu fórum e suas listas de e-mail. Eles já contam com uma grande quantidade de mensagens acumuladas em seus históricos e um bom número de membros bastante prestativos, incluindo alguns dos mantenedores da distribuição.

CentOS em Laptops

Há não muito tempo, foi colocado em discussão na lista de e-mail do CentOS um projeto para alavancar e prestar informações para o uso da distribuição em Laptops. Inicialmente desinteressante para essa esfera de usuários - já que o foco do CentOS é principalmente os servidores e as estações de trabalho - muitos já se convenceram que a estabilidade e confiabilidade de uma distribuição é um fator muito mais importante do que ter as últimas versões dos softwares em seu sistema operacional. Pensando nisso, a comunidade foi encorajada a reunir na Wiki as informações sobre suas experiências com o CentOS em Laptops.

Considerações finais

Embora sob algumas críticas, a Red Hat pode ser considerada responsável por grandes avanços do Software Livre dentro do mercado corporativo. Consolidou-se líder em soluções Open Source e criou uma relação de confiança com as empresas, principalmente através de sua distribuição: o Red Hat Enterprise Linux.

Seguindo esse sucesso do RHEL, o CentOS surgiu apenas como mais um clone gratuito dessa distribuição. Com o passar do tempo, tornou-se o mais profissional entre eles, construindo em sua volta uma comunidade de usuários ativa e tendo como alicerce a boa quantidade de documentação e repositórios pela Internet. Suas atualizações são lançadas rapidamente, na maioria das vezes levando alguns poucos dias após a Red Hat liberá-las.

Por essas e outras razões, o CentOS tem conseguido conquistar um importante espaço, sendo cada dia mais uma escolha confiável para as empresas.