A ascenção e a queda do XMMS


“Quem usa Linux há pouco menos de 3 anos, tem chance de não ter chegado a usar o XMMS. Os mais antigos com certeza se lembram desse clone visual do Winamp e possivelmente ainda o utilizam. Mas quem conheceu e atualmente não o vê mais nas principais distribuições deve estar se perguntando: o que aconteceu com esse que era o tocador de mp3 padrão dos desktops GNU/Linux por anos a fio?

A resposta não é simples nem curta, então vamos contar um pouco do que aconteceu através dos anos.”

Segundo a entrada na Wikipedia, http://en.wikipedia.org/wiki/Xmms , o Xmms começou como X11Amp, feito por Peter e Mikael Alm em Novembro de 1997. Ele surgiu após o Winamp para Windows, que veio ao mundo em maio daquele ano. O então X11Amp foi feito para ser clone do Winamp, sendo inclusive compatível na época com as skins deste. Em 1999 o projeto passou a ser patrocinado pela 4Front Technologies, e desde então o nome mudou para X MultiMedia System, ou XMMS.

Assim como o Winamp em sua plataforma nativa, o XMMS logo se tornou uma referência entre os tocadores de mp3, com grande número de skins e plugins disponíveis, a maioria feitos pela comunidade construída ao redor dele. Os plugins traziam as mais diversas funcionalidades para o XMMS, como suporte a novos e exóticos formatos de áudio (como o formato de áudio das ROMs de Super Nintendo) e vídeo (através de um plugin do Mplayer), passando por suporte a controle remoto e normalização de volume. Até hoje, o XMMS ainda é o tocador de mp3 para ambientes livres com o maior número de codecs de áudio suportados (alguns arquivos de áudio só podem ser ouvidos através dele).

Por volta de 2003, com a disponibilidade de internet de banda larga e com o fenômeno do mp3 em plena expansão, começaram a surgir usuário com coleções de mp3 que ultrapassavam 1000 músicas, algo impensável anos antes. Sempre houve tocadores especializados em grandes coleções, como o MusicMatch Jukebox para Windows, mas eram programas grandes e pesados, além de ter uma interface mais complicada que tocadores como o Winamp, que eram muito mais populares.

Então, com coleções enormes, muitos usuários passaram a usar aqueles programas pesados, mas capazes de lidar com grandes coleções, organiza-las e de criar listas de músicas de modo a se poder aproveitar melhor a grande coleção disponível. Por essa época, surgiram no software livre projetos como o Amarok (QT) e o Rhythmbox (GTK), além do iTunes da Apple. Um número cada vez maior de usuários passou a usar o PC como centro de entretenimento, estocando enormes quantidades de arquivos de áudio e vídeo. O XMMS tinha dificuldades de lidar com tantas músicas disponíveis, e criar listas de música dentre centenas de opções não era algo muito fácil de se fazer nele.

Entre 2002 e 2003, Peter Alm, um dos criadores do X11Amp original, começou o projeto do XMMS2 a partir do zero, usando GTK2. pouco tempo depois o projeto passaria para as mãos de Tobias Rundström e Anders Gustafsson. Porém, o progresso tem sido muito lento, e após cerca de 4 anos, ainda não está disponível uma versão utilizável pelo grande público. Enquanto isso, o XMMS original foi abandonado por volta de 2004, na versão 1.2.10. Embora ainda um ótimo tocador de mp3, o XMMS carecia de recursos para concorrer com projetos mais novos, e ainda havia uma extensa lista de bugs a corrigir. A insistência em continuar utilizando o GKT+ (por causa das dezenas de plugins disponíveis) levou a forks do projeto, sendo o primeiro o Beep Media Player em 2003, utilizando GTK2. Deste projeto foi criado outro fork, o Audacious (não confundir com o editor de som Audacity) em 2005.

Foi então que a vaca foi pro brejo. Não recebendo mais atualizações, com uma grande lista de bugs, o perigo de surgimento de falhas de segurança que não seriam corrigidas e com opções em desenvolvimento ativo na arena do software livre, grandes distribuições começaram a fazer algo impensável a alguns anos antes: retirar o XMMS dos repositórios. O primeiro foi o Gentoo, em outubro de 2006, seguido pelo Slackware em março de 2007. Esta retiradas dos repositórios foram altamente criticadas por vários usuários, e até a página do XMMS entrou no meios das calorosas discussões, publicando alguns comentários sarcásticos durante as remoções dos repositórios, como pode ser visto na página principal do projeto: http://www.xmms.org/ .

Agora o XMMS corre o risco de ser removido também dos repositórios do Debian, onde discussões a respeito duram vários meses: http://thread.gmane.org/gmane.linux.debian.devel.general/116761

No link acima, o desenvolvedor do Audacious, um projeto que tem a base do XMMS, revelou que o site do projeto foi atacado por usuários hackers fanáticos pelo XMMS, pelo simples motivo do Audacious ser o programa que está sendo substituindo o XMMS nos repositórios. Em numa manobra para livrar o seu projeto da polêmica gerada, seu criador nega que o Audacious seja uma simples cópia do XMMS e que não pretende ser retrocompatível com este, além de ter objetivos diferentes, uma simples olhada neste projeto ( http://audacious-media-player.org ) mostra o porque das distribuições o estarem utilizando como substituto natural do XMMS. E aí entra outra polêmica: o código do Audacious não é completamente compatível com o programa antigo e muitos recursos disponíveis através de plugins no XMMS estão indisponíveis no Audacious. E o que é pior: vários formatos de áudio que só são audíveis no GNU/Linux através dos plugins do XMMS estão agora inutilizados.

À comunidade, resta agora a opção de unir forças para a resolução de diferenças visando cobrir a lacuna deixada por aquele que ainda é o maior tocador de mp3 do mundo do software livre.

http://br-linux.org/linux/a-ascencao-e-a-queda-do-xmms