Entrevista: Ballmer, da Microsoft, fala sobre Windows Server, Yahoo e Linux

Lançamento do Windows Server, virtualização, aquisição do Yahoo e promessas de interoperabilidade estão em pauta


A Microsoft lançou o Windows Server 2008, o SQL Server 2008 e o Visual Studio 2008, em um evento realizado em Los Angeles (Estados Unidos), em 27 de fevereiro. Depois do discurso dirigido aos profissionais de TI presentes na ocasião, a InformationWeek EUA teve a oportunidade de conversar com o CEO da Microsoft, Steve Ballmer.


Em uma entrevista com duração de 25 minutos, Ballmer falou sobre virtualização, Linux, as preocupações que os clientes podem ter sobre o lançamento do Windows Server 2008, o recente anúncio de "abertura" por parte da Microsoft; a futura aquisição da Yahoo (incluindo o destino do Flickr), e até mesmo sobre mainframes. Eis os principais pontos:


InformationWeek: Acredito que você considera que a VMware atuando de maneira agressiva na área de virtualização. Os clientes com quem conversei afirmam que a Microsoft está definitivamente atrasada neste setor. Você mencionou isso em sua palestra de hoje, com o atraso do Hyper V. O fato de a companhia estar iniciando agora no segmento da virtualização a coloca em desvantagem, em relação às concorrentes?

Ballmer: Como se sabe, a escolha está em ser, ou não, o primeiro a ter participação em um mercado. Creio que prefiro ser o primeiro. Mas é preciso lembrar que este mercado mal começou a ser explorado e, menos ainda em base instalada – menos de 5% de todos os sistemas estão virtualizados. A virtualização é um caminho complicado demais para se seguir; um caminho demasiadamente caro, atualmente, para que as pessoas possam tirar proveito dele, e está excessivamente isolada do restante de tudo o que acontece no desenvolvimento de aplicativos para a implementação e as operações de data centers. O que digo não é uma forma de criticar, trata-se apenas de se vamos nos dedicar efetivamente a esse caminho – se o fenômeno chegar a concretizar seu efeito total, então, teremos de democratizá-lo. Isso poderá ocorrer por meio da VMware, mas eles não têm demonstrado nenhuma iniciativa nesse sentido. Alguém pode argumentar que essa pode ser uma das alternativas do código aberto. Gosto daquilo que temos. Acho que assumimos a responsabilidade por esses problemas.

Isso não significa que outras empresas vão desistir. Obviamente, reconhecemos esse fato e proporcionamos boa interoperabilidade com a virtualização da VMware. Mas não creio nisso – existe uma simplicidade quanto ao desempenho, ao gerenciamento, ao gerenciamento integrado, e todos os outros fatores –, acredito que vamos fazer uma verdadeira diferença. Certamente, eu gostaria que, já há um ano, tivéssemos e fornecêssemos o que temos e estamos disponibilizando agora. Ou, quem sabe, há dois anos? É claro que sim. Mas pode acreditar: vamos fazer uma grande diferença.

InformationWeek: Uma das preocupações que descobri que as pessoas têm – certamente, com o lançamento do Vista e suas experiências anteriores com esses sistemas operacionais – é a preocupação referente à compatibilidade inicial com os aplicativos. Que tipo de coisas a Microsoft está realizando atualmente e que não fez antes para garantir aos clientes que eles poderão começar a migrar muito em breve para o Windows Server 2008?


Ballmer: Bem, obviamente, temos trabalhado muito, mesmo no que se refere ao Vista. Temos nos dedicado muito à compatibilidade dos aplicativos. Parte desse trabalho é direcionada ao código, mas a maior parte do nosso esforço está dirigida à nossa iniciativa relacionada a outros provedores de software, aos desenvolvedores de aplicativos, às ferramentas que ajudam as pessoas a obter melhor desempenho, etc. E isso não significa que conseguiremos concluir totalmente nosso trabalho, mas creio que essa é uma área na qual temos realizado um ótimo trabalho e, a verdade é que o fato de o Windows Server 2008 estar sendo lançado um ano depois do Vista realmente acaba ajudando muito no seu próprio lançamento.


Sendo assim, acho que deveremos prosseguir muito rapidamente daqui em diante. Sabe como é, se considerarmos isso, somente parte do que acontece no segmento de servidores se refere a aplicativos “sob medida” ou a aplicativos distribuídos por terceiros. Muito do que acontece no setor de servidores, francamente, tem muito a ver com a padronização de aplicativos. Todos os bancos de dados são compatíveis ou não? Todos os programas de e-mail são compatíveis ou não? Todas as ferramentas de gerenciamento de documentos e de colaboração, assim como o SharePoint, são compatíveis ou não? Acredito que uma porcentagem muito maior das máquinas forma o que chamamos de aplicativos padronizados, em vez dos aplicativos especializados. Isso não significa que os aplicativos padronizados não sejam importantes.

InformationWeek: Outro aspecto a se considerar é o Linux. Você disse que está ganhando terreno em relação ao Linux, e os relatórios de alguns analistas têm demonstrado isso. Mesmo assim, um quarto de nossos leitores disse que pretende aumentar sua proporção de servidores Linux em relação aos servidores da Microsoft. Como a Microsoft pode manter seu sucesso frente ao Linux e como você poderá convencer este um quarto de nossos leitores de que eles estão errados?


Ballmer: Bem, acredito que o que temos de fazer, em vez de convencer as pessoas de que elas estão erradas, é convencê-las de que o produto que fornecemos, de que a parceria estabelecida proporciona verdadeiro valor. E é nesse sentido que estamos fazendo um excelente trabalho. Quero dizer, o que importa é: Como vamos superar o Linux? O modo como uma companhia ultrapassa quaisquer outras de suas concorrentes: você pode agregar valor real, o que, nesse caso, significa um bom custo total de propriedade, certo? Porque, no final, o custo total de propriedade é o que realmente importa. E também o fato de que o Linux é código aberto, portanto, parece que seu custo é nulo – isso, torna mais fácil fazê-lo se destacar no aspecto que sempre faz a diferença, de qualquer forma, que é o custo total de propriedade. Hoje em dia, temos uma melhor proposição, eu creio, para o custo total de propriedade, e precisamos oferecer melhor valor onde este fator reflete os aplicativos que estão disponíveis, a qualidade das ferramentas.


Considere algo como o SharePoint, independentemente. Trata-se de um ótimo produto. A qualidade dos bancos de dados é uma excelente vantagem. A disponibilidade de ferramentas, do Visual Studio e .Net, e a capacidade de integrar aplicativos personalizados; tudo isso faz parte do valor e do custo total de propriedade. E acho que estamos tendo grande sucesso em nossa iniciativa. Nas áreas em que não estamos realizando um bom trabalho, temos menor participação. Por exemplo, nossa porcentagem de participação de mercado é menor no segmento de computação de alto desempenho. Isso representa 40% dos negócios relativos ao Linux. Realmente não entramos nesse mercado com o que se pode chamar de um produto aperfeiçoado, com alto nível de inovação e com grande valor agregado, até o ano passado. Agora, estamos “no jogo”, estamos conquistando participação no setor de carga de trabalho de computação de alto desempenho. Nesse sentido, a formula é antiga: mantenha os preços baixos, mantenha um alto grau de inovação, e faça com que o custo total de propriedade permaneça baixo.


InformationWeek: As questões relacionadas à interoperabilidade, à abertura e aos padrões representam um papel importante nessa concorrência com o Linux e também o código aberto?


Ballmer: Certamente que sim, essas questões são significativas. A interoperabilidade é uma via de mão-dupla – o concorrente tira participação de você, e você tira participação dele –, e sempre será assim. Tudo o que começa com a palavra “interoperabilidade” tem essa característica. O benefício de nossos clientes, o que é uma ótima coisa. Enquanto acreditamos que temos uma oportunidade de obter benefícios, você está considerando os riscos; acho que os riscos são de que a interoperabilidade faz mais mal do que bem. Não acredito que isso seja provável, mas de qualquer modo, a interoperabilidade está disponível para nós e também para as pessoas com quem você precisa interoperar.


Eu sempre costumava brincar com a IBM; sabe como é: estamos abrindo o segmento de desktop para eles, e eles estão abrindo o setor de mainframes e data centers para nós. E definir quem conseguirá convencer quem é uma boa coisa em termos de quem vence.

InformationWeek: Duas das principais preocupações que tenho ouvido sobre a aquisição do Yahoo se referem às principais diferenças de infra-estrutura entre Yahoo e Microsoft, e uma série de redundâncias de produtos. Craig Mundie realmente mencionou isso em uma palestra realizada para os profissionais da Goldman Sachs. Por que os clientes e investidores não estariam preocupados com esses fatores? InformationWeek: Você soube da matéria divulgada no New York Times, em que a IBM dizia que os mainframes estão voltando?

Ballmer: Eu realmente não sei se isso é verdade. Mas se eles poderão continuar a operar e se poderão aumentar seus rendimentos, essa é outra história. Mas se você realmente conversar com a maioria de seus leitores e disser que os mainframes estão realmente voltando à ativa, creio que você vai perceber que apenas 25% deles concordarão com essa declaração.


InformationWeek: Com todas as versões do Windows, você ouve pessoas dizendo: "Estou esperando pelo Service Pack 1". Muitas dessas pessoas fazem isso porque percebem a quantidade de “bugs” existente em uma versão inicial. A Microsoft vem dizendo que esta versão do Windows Server está entre os produtos que foram mais rigorosamente testados para serem lançados pela companhia. O que você pode dizer para comprovar isso?


Ballmer: Ele deriva da base de código do Vista. Por isso, todos os testes continuaram por mais um ano. Houve algum aperfeiçoamento e muitos testes foram feitos. Modificamos – há cerca de três ou quatro anos – nosso processo de desenvolvimento para podermos mudar para uma abordagem segura de ciclo de vida de desenvolvimento. E se você observar - a prova está nos resultados obtidos – todos os produtos que temos lançado com esse tipo de metodologia de desenvolvimento apresentam suscetibilidades e vulnerabilidades reduzidas, o que me faz sentir muito bem, e corroboro totalmente essa declaração.


Acredito que muitos clientes dirão: "Bom, resolvi que vou adiante". Algumas pessoas, sem dúvida, escolherão esperar pelos resultados apresentados pelo mercado, ou por um pacote de serviço.


InformationWeek: Existe uma expectativa no sentido de que as implementações de servidores poderão ser realizadas durante um período mais longo do que as de desktops?


Ballmer: Todo o processo necessário para que os servidores sejam implementados é muito diferente do que acontece com os desktops. As pessoas querem fazer parecer que os processos são os mesmos. Os usuários substituem ou atualizam os desktops; as pessoas, principalmente, acrescentam servidores. Ocasionalmente, alguém poderá redefinir a plataforma de um aplicativo servidor que está funcionando. Mas na maioria das vezes, um servidor não precisa que sua plataforma seja redefinida. Você tem apenas um desktop para uma pessoa; esse é o ambiente completo. Você pode modificá-lo ou não. Você pode deixar a carga de trabalho do SharePoint no Windows Server 2008 e manter a carga de trabalho da computação de alto desempenho no Linux, e alguma outra carga de trabalho da web no Windows Server 2003, e o usuário nem precisa saber disso. Por isso, a tendência é de que os servidores sejam acrescentados e de que os desktops sejam atualizados.


InformationWeek: Nesta era de consolidação de servidores, com a virtualização sendo considerada como uma próxima etapa para a consolidação, o Windows Server continua a ser um mecanismo de crescimento para a companhia. O que é responsável pelo contínuo acréscimo de servidores?


Ballmer: Em primeiro lugar, a virtualização é um estágio muito inicial, um fenômeno que está nascendo. Ou seja, eu já disse que menos de 5% dos servidores estão virtualizados. Em segundo lugar, temos definido os preços de nosso software do Windows Server de tal modo, que, na verdade, mesmo se os sistemas tenderem a se tornar mais consolidados, teremos uma oportunidade de continuar a participar financeiramente, não cobrando muito, mas o preço adequado. Cobramos mais por nossa edição corporativa e para data centers, e disponibilizamos mais máquinas virtuais, efetivamente, do que as que são executadas. Temos alguns preços que nos ajudam a continuar sustentando valor.


E, em terceiro lugar, a demanda absoluta; o número absoluto de aplicativos que as pessoas querem integrar e executar está ultrapassando qualquer capacidade que qualquer um de nós parece ter de reduzir cargas de trabalho. Provavelmente, o fator número quatro é o aumento de escala, que é como um uso mais intensivo de servidores por carga de trabalho. O modelo de aumento de escala é importante para muitos dos aplicativos de próxima geração para a web, que estão sendo executados. Eles não serão consolidados, pois irão em outra direção. Certamente, podemos verificar isso em um local como a Microsoft, com MSN ou Amazon ou eBay ou qualquer uma dessas empresas.



Ballmer: Honestamente, não tenho certeza de que os clientes vão pensar duas vezes a esse respeito. Ou seja, os clientes, agora, são consumidores e anunciantes. E o que quer que esteja acontecendo “nos bastidores”, esse é o tipo de problema que devemos resolver. Portanto, esses não são clientes corporativos. Trata-se de algo com que temos de lidar, portanto, não entendo o ponto de vista do cliente.


Dissemos aos acionistas: olhem, acreditamos que existe uma oportunidade de obter valor, de obter sinergia nesta combinação, e que temos uma série de idéias; conversamos a respeito de algumas áreas nas quais podemos ter sinergia. E, ao mesmo tempo, até que nós e o Yahoo tenhamos uma verdadeira discussão a esse respeito, isso ainda é muito prematuro, para ser mais específico.


InformationWeek: Creio que o aspecto com que os clientes podem estar preocupados a respeito, por exemplo, é o Flickr. Acontecerá alguma coisa em relação a ele ou ele “desaparecerá”?


Ballmer: Como eu disse, esse será um problema que teremos de resolver. E naturalmente, existem algumas questões a serem avaliadas. Não tenho certeza do porquê que uma coisa boa como o Flickr desaparecer do mercado, não sei por que alguém poderia levantar essa hipótese.

InformationWeek: Quanto à garantia de abertura que vocês anunciaram recentemente, uma coisa que eu realmente não consegui entender direito é se vocês sentem que a Microsoft está se dirigindo mais no sentido de adotar padrões abertos do que fez anteriormente? Essa é a primeira parte. E o segundo aspecto é: o que vocês esperam conseguir com esse crescente envolvimento com a comunidade de código aberto?
Ballmer: Creio que no que realmente trabalhamos para fazer a abertura foi sistematizar e formalizar e tornar digerível para os parceiros, os participantes da indústria, os clientes, etc. o modo como pensamos sobre a interoperabilidade e a compatibilidade entre padrões. Não dissemos, de modo algum, que não vamos nos dedicar à inovação. Não fizemos isso. Afirmamos que quando adotarmos padrões, seremos transparentes sobre o modo como faremos isso. Iremos adotar muitos padrões, e teremos de ser transparentes com relação a isso. Se nos desviarmos do que planejamos, também seremos transparentes a esse respeito.


Conversamos sobre o que eu chamo de um envolvimento transparente e aberto com os padrões da indústria, o que acredito que é muito bom. Posso até mesmo dizer que se trata do modo como estamos tentando realizar as coisas; outras pessoas podem discordar, mas em vez de discutir sobre isso, por que não estabelecer isso como um princípio? Vamos seguir esse princípio internamente e também com nossos clientes.


No caso do código aberto, temos vários tipos de projetos. A Microsoft sempre se esforçou para estar no centro de onde o trabalho inovador está acontecendo. Se o trabalho inovador estiver sendo realizado na comunidade de código aberto, quero que ele ocorra em nossas plataformas. Sempre estamos tentando fazer um trabalho inovador acontecer em nossos sistemas operacionais, e quero que o Windows seja o principal destino da inovação referente ao código aberto.


Ao mesmo tempo, alguns de nossos produtos têm, eles mesmos, concorrentes na área de código aberto. E iremos competir com os concorrentes que temos nesse segmento, assim como iremos interoperar com eles; e também faremos qualquer coisa que realizaríamos com um concorrente comercial. Se estivermos anunciando interoperabilidade para nos aproximar do Linux, estamos falando sobre proposição de valor e o que estamos tentando fazer para tirar a participação de mercado do Linux. Nesse sentido, o que se pode dizer é que o Windows compete com o Linux, e não que a Microsoft compete com o código aberto, não em termos gerais. O Windows compete com o Linux; o SQL Server compete com o MySQL, etc.